3.1 O que é uma Intervenção Estrutural
Vivemos em uma era de complexidade crescente, onde os desafios sociais e organizacionais são cada vez mais urgentes e multifacetados. Diante disso, soluções pontuais e superficiais mostram-se insuficientes. É preciso intervir na própria estrutura dos sistemas para gerar mudanças substantivas e duradouras.
Intervenções estruturais buscam superar os conflitos estruturais, questionando políticas, práticas e dinâmicas arraigadas que muitas vezes são tidas como certas e imutáveis. O foco está em transformar os hábitos invisíveis que influenciam o funcionamento das organizações e sociedade.
Artefatos culturais como ponto de entrada
Dado que os valores, o tecido afetivo, o presupostos e as relações de poder são difíceis de observar e influenciar diretamente, uma estratégia comum é utilizar os artefatos culturais mais tangíveis como ponto de entrada.
Ao mudar políticas, ritos, linguagens, símbolos e espaços físicos, podemos desencadear, mesmo que indiretamente, transformações mais profundas nas outras camadas do sistema.
Por exemplo, intervenções que buscam introduzir linguagem não-binária ou tornar ambientes corporativos mais diversos e inclusivos estão, no nível dos artefatos, gerando reflexos importantes na distribuição de poder e representatividade de grupos marginalizados.
Relações de poder e política
Embora os artefatos sejam o aspecto mais palpável, intervenções estruturais também buscam explicitar e alterar relações de poder disfuncionais que subjazem políticas e práticas institucionalizadas.
Isso pode envolver redistribuir autoridade para decidir, dar voz e influência real a grupos sub-representados, e desenhar sistemas que equilibrem interesses divergentes ao invés de concentrar poder e privilégios.
Um exemplo são estruturas e processos de governança distribuída, nos quais o poder está espalhado por toda a organização ao invés de centralizado no topo. Isso muda profundamente as dinâmicas de poder em um sistema.
Valores e pressupostos
A camada mais profunda da estrutura envolve os valores, crenças e pressupostos tidos como absolutos. Intervenções estruturais buscam trazer à tona e questionar aqueles que sustentam padrões limitantes e disfuncionais.
Isso pode se dar por meio de diálogos provocativos, rituais que celebrem princípios alternativos ou políticas que intencionalmente contradigam normas limitantes até então incontestadas.
Um exemplo é o questionamento crescente do valor do individualismo extremo, comunmente enraizado, e a promoção de valores mais coletivistas e interdependentes.
Além do organograma
Ao pensarmos em estrutura no contexto organizacional, há uma tendência de reduzi-la ao organograma formal – a distribuição de cargos e hierarquia prescrita. Mas intervenções estruturais miram transformações que vão muito além disso.
Elas buscam alterar estruturas informais de poder, políticas não declaradas, culturas tóxicas e redes de significado compartilhado. Ou seja, dissolver amarras que vão muito além do organograma tradicional e dos cargos formais.
Isso permite repensar as bases das interações humanas dentro e além das barreiras hierárquicas e funcionais.
Essa não é uma jornada linear com um ponto de chegada definido. É um processo contínuo de dissolução de amarras e criação de espaços mais generativos.
Navegando Tensões para Dissolvê-las
Claro que, para desenhar intervenções estruturais, precisamos ter uma boa definição daquilo que gostaríamos que fosse diferente do que é hoje.
Uma definição objetiva e acionável é essencial para mudar qualquer coisa.
É aí que entra o conceito de 2.2 Tensões Criativas: uma ferramenta que ajuda a estruturar a mudança desejada.
Sem clareza das tensões estruturais que desejamos dissolver, será difícil desenhar experimentos que nos ajudem a superar os conflitos estruturais nas organizações e na sociedade.
As Tensões Criativas representam o espaço entre o presente e o futuro desejado. É o reconhecimento da diferença entre o que é e o que queremos que seja. É a consciência das imperfeições e dos conflitos estruturais que permeiam nossas organizações e sociedade. É a chama da insatisfação que nos impulsiona em direção à mudança.