3.2 Experimento vs Plano de Ação
Experimentos são testes temporários conduzidos para gerar aprendizados validando ou refutando hipóteses específicas. Já planos de ação são esforços mais abrangentes para atingir metas pré-definidas através de um conjunto de iniciativas.
Apesar de parecerem opostos à primeira vista, veremos que experimentos e planos de ação na verdade podem ser complementares se usados de forma integrada. Mas para isso, é preciso primeiramente entender suas naturezas e propósitos distintos.
Pressupostos por trás de cada abordagem
Experimentos e planos de ação partem de pressupostos distintos sobre como lidar com desafios complexos. Essas diferentes posturas podem ser encapsuladas na polaridade entre "sentir e responder" e "prever e controlar". A abordagem de experimentação reflete mais os princípio de "sentir e responder", enquanto o planejamento tradicional está alinhado com "prever e controlar".
A tabela abaixo sintetiza algumas das principais diferenças entre essas duas orientações:
Prever e Controlar | Sentir e Responder | |
---|---|---|
Base | Previsões e planos detalhados | Experimentação e aprendizado contínuo |
Flexibilidade | Rígida e inflexível | Adaptável e responsiva |
Foco | Execução do plano original | Adaptação e melhoria contínua |
Incerteza | Dificuldade em lidar com incertezas e imprevistos | Capacidade de responder rapidamente a mudanças |
Experimentos: Sentir e Responder
Experimentos partem de uma postura de "sentir e responder". Eles lidam com realidades complexas e emergentes, nas quais não é possível prever o futuro com clareza. Diante dessa incerteza, a abordagem é testar hipóteses através de experimentos para então responder de forma adaptativa ao que é observado e aprendido.
Alguns pressupostos por trás dessa abordagem:
- Foco em aprendizado e adaptação: o propósito principal é testar hipóteses e gerar insights, não necessariamente "acertar" desde o início. Falhas são bem-vindas se gerarem aprendizados.
- Lidar com incerteza e complexidade: há um reconhecimento de que não se pode prever tudo em ambientes complexos. Em vez de negar a incerteza, a abordagem é abraçá-la.
- Testar hipóteses: por não poder prever o futuro, a estratégia é fazer experimentos que testem possibilidades sob a forma de hipóteses. Elas são então validadas ou refutadas na prática.
- Gerar aprendizado através da experimentação: os aprendizados não surgem de análises prévias, e sim de tentativa e erro controlado através de experimentos. Insights frequentemente são contra-intuitivos.
- Respostas emergentes e iterativas: ao invés de traçar um plano detalhado prévio, a abordagem é responder de forma incremental e iterativa ao que se observa em cada ciclo experimental.
Planos de Ação: Prever e Controlar
Já planos de ação partem de uma orientação de "prever e controlar". Eles presumem a habilidade de antecipar desafios e traçar planos sólidos para então executá-los de forma controlada.
Alguns pressupostos dessa abordagem:
- Foco em execução e entrega: o foco está em seguir o plano e executá-lo da forma mais eficiente possível. Aprendizados não são o foco primário.
- Busca por previsibilidade e controle: busca-se reduzir incertezas e variáveis através de análise e planejamento. Imprevistos são vistos como problemas a serem evitados.
- Definir metas e caminhos: metas são definidas com antecedência, assim como os caminhos pré-determinados para atingí-las dentro de cronogramas.
- Soluções pré-determinadas: as respostas para os desafios já estão contidas no plano de ação. Não há espaço ou tempo para emergência de soluções durante a execução.
- Seguir um planejamento linear: o plano é traçado do início ao fim antes da execução. Não há espaço para mudanças de rota baseadas no que será aprendido ao longo do caminho.
Essa abordagem maximiza consistência, previsibilidade e eficiência na execução. Porém traz riscos em ambientes nos quais não se pode prever adequadamente o futuro ou conhecer as variáveis em questão. Planejamentos inflexíveis também podem levar a execuções focadas em "cumprir plano" ao invés de responder a necessidades emergentes.
Diferenciando Experimentos de Planos de Ação
É importante não confundir experimentos com planos de ação ou projetos. Apesar de ambos envolverem ações concretas, eles têm naturezas distintas:
- Experimentos são testes temporários, com hipóteses claras e focados em aprendizagem. Eles podem falhar e isso é esperado.
- Planos de ação são mais abrangentes, com múltiplas iniciativas, e buscam atingir metas pré-definidas. Eles têm foco em execução e entrega.
Aqui está uma tabela comparativa entre experimentos e planos de ação:
Experimentos | Planos de Ação | |
---|---|---|
Foco | Aprendizado e adaptação | Execução e entrega |
Lidando com incerteza | Abraçando a incerteza | Buscando previsibilidade |
Natureza | Testes temporários | Iniciativas abrangentes |
Duração | Limitada | Maior prazo |
Escopo | Específicos | Amplos |
Objetivo | Testar hipóteses | Atingir metas |
Soluções | Emergentes e iterativas | Pré-determinadas |
Falhas | Fonte de aprendizado | Problemas a evitar |
Adaptabilidade | Alta | Baixa |
Duração | Curta | Longa |
Planejamento | Flexível | Linear e detalhado |
Foco | No caminho | No destino final |
Implicações práticas
Essas diferentes posturas frente à incerteza e complexidade trazem implicações práticas opostas para quem as aplica. Aqui estão algumas delas:
Lidando com falhas e imprevistos:
- Experimentos: falhas são fontes de aprendizado e adaptação. Imprevistos são explorados.
- Planos de ação: falhas são problemas a serem evitados. Imprevistos requerem replanejamento.
Adaptabilidade vs. Consistência:
- Experimentos: adaptação contínua com base em aprendizados. Foco na agilidade.
- Planos de ação: consistência na execução do planejado. Foco na previsibilidade.
Velocidade de resposta vs. Execução eficiente:
- Experimentos: resposta rápida e ágil mesmo que imperfeita inicialmente.
- Planos de ação: busca por eficiência e qualidade na execução planejada.
Foco no caminho vs. foco no destino:
- Experimentos: o caminho e os aprendizados ao longo dele são valorizados.
- Planos de ação: o foco está no destino final representado pelas metas.
Essas diferenças mostram que os dois enfoques são adequados para situações distintas. Em ambientes previsíveis e simples, a abordagem de planejamento tradicional tende a funcionar bem. Já em cenários complexos e com alta incerteza, experimentos ágeis costumam ser mais efetivos.
Integrando as duas abordagens
Seria um erro descartar qualquer uma das duas abordagens completamente. Tanto a experimentação adaptativa quanto o planejamento estruturado trazem valor em diferentes contextos e fases.
O caminho do meio envolve integrar essas abordagens de forma complementar, calibrando seus usos de acordo com a situação. Algumas diretrizes para essa integração:
- Experimentar antes de escalar: usar experimentos para testar soluções em pequena escala antes de implementá-las amplamente.
- Planejar o que faz sentido planejar: em atividades previsíveis e repetitivas, planejamento tradicional funciona bem.
- Manter planos flexíveis: criar planos que possam ser adaptados com base nos aprendizados ao longo do caminho.
- Definir marcos, não caminhos: estabelecer marcos e resultados desejados, mas não caminhos rígidos.
- Utilizar ritmos mistos: combinar sprints de experimentação com ciclos de planejamento integrado.
- Celebrar aprendizados, não apenas entregas: valorizar tanto os aprendizados dos experimentos quanto as entregas dos planos.
Encontrar o equilíbrio certo entre essas duas abordagens é chave para lidar com os desafios de um mundo em constante mudança.
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