3.5 Usando o Canvas de Experimento
O Canvas de Experimento é uma ferramenta visual simples, porém poderosa para desenhar e conduzir experimentos de forma estruturada. Ele guia os usuários pelos elementos essenciais de qualquer experimento, oferecendo maior clareza, foco e didática.
Mapeando a tensão
Antes de criar o experimento em si, o canvas sugere primeiro mapear claramente a tensão ou problema que se deseja abordar.
Essa etapa inclui 4 elementos:
Eu percebo: Descreva objetivamente o que você percebe que gostaria de mudar ou melhorar. Foque nos fatos e observações.
Eu desejo: Agora descreva subjetivamente como você gostaria que a situação fosse. Deixe fluir o desejo pelo ideal.
História real: Narre um caso concreto, com detalhes, exemplificando a tensão atual. Humanize com uma situação real.
História ideal: Reimagine a história acima, agora com o problema resolvido da maneira desejada. Traga o ideal à vida.
Esse processo cria uma imagem tangível do que gostaríamos que fosse diferente. Isso orienta o desenho de um experimento que busca resolver a tensão de forma concreta. Ter clareza sobre a tensão é essencial para criar experimentos realmente relevantes e impactantes. O processo de descrição da tensão é essencial para esta etapa.
Descrição detalhada do experimento
O primeiro passo é descrever o experimento em si de forma completa e concreta. Isso envolve explicar exatamente o que será feito e qual mudança estrutural está sendo proposta.
A descrição deve ser o mais tangível possível, fugindo de generalidades. Por exemplo, ao invés de dizer que o experimento visa “melhorar a colaboração entre times”, explicite como isso será feito na prática: “Times A e B serão colocados fisicamente no mesmo espaço por 2 semanas para trabalharem em um projeto conjunto”.
Lembre que todo experimento deve envolver uma criação, remoção ou mudança nos 2.3 Artefatos Culturais.
Essa descrição é crucial para alinhar expectativas entre os envolvidos e viabilizar a execução. Também ajuda a manter o foco no aspecto estrutural e sistêmico da mudança, não apenas melhorias superficiais.
Definindo hipóteses
Com o experimento descrito, o próximo passo é definir hipóteses claras e testáveis. Hipóteses efetivas seguem um formato condicional do tipo:
Se [fizermos essa mudança], então [esse resultado] deve acontecer.
Por exemplo:
Se eliminarmos todas as reuniões síncronas, então teremos mais tempo para trabalhar.
Não é necessariamente uma boa hipótese(quem sabe?) mas você entendeu. 😅
Liste todas as principais hipóteses que podem ser testadas com o experimento. Elas devem ser diretamente relacionadas à descrição do que será feito. Definir hipóteses explicitamente aumenta as chances de realmente validá-las ou refutá-las.
Lembre-se: um experimento pode ter mais de uma hipótese e uma hipótese pode ter mais de um experimento.
Determinando critérios de validação
Com as hipóteses mapeadas, o próximo passo é determinar que dados serão coletados para testá-las. Pense em métricas quantitativas e qualitativas que podem indicar se as hipóteses se confirmam ou não.
Aqui é sempre bom lembrar da importância dos dados dados quentes.
Por exemplo:
- Quantitativo: Número de interações entre os times, velocidade para finalizar o projeto conjunto
- Qualitativo: Narrativas dos membros dos times sobre a experiência de colaboração, qualidade da entrega final
Defina com clareza os critérios para validar ou refutar cada hipótese com base nessas evidências e reflita sobre seus viéses de confirmação no processo, buscando sinais que contraponham suas hipóteses iniciais.
Mas lembre-se, todo modelo é falacioso por natureza.
Definindo próximos passos
Aqui é importante você ter ao menos 3 próximos passos definidos. Assim você já sabe o que fazer em seguida.
Muitas vezes os próximos passos envolvem
- Vender a ideia pra alguém
- Desenhar um artefato com mais detalhes
- Rodar o experimento
Você não precisa fazer um plano de ação para rodar o experimento! Basta definir algumas próximas ações básicas para evidenciar o que fazer em seguida.
O checklist do experimento
Antes de sair executando, o Canvas sugere fazer um checklist rápido para garantir que o experimento está bem desenhado:
- É bom o suficiente por agora?
- É seguro o suficiente pra falhar?
- Propõe algum tipo de mudança estrutural?
- É simples o suficiente para criar menos tensões do que resolve?
Se as respostas forem positivas, siga em frente. Senão, reconsidere o desenho. Esse checklist ajuda a calibrar a proposta e evitar armadilhas comuns.
Rodando e evoluindo experimentos
Uma vez lançado o experimento, o ciclo envolve executar, monitorar, avaliar e ajustar. Colete evidências definidas anteriormente para testar hipóteses. Avalie os resultados e aprendizados para decidir os próximos passos.
Quanto mais rápidos os ciclos de experimentação, mais evolução é possível. Portanto, trabalhe em sprints curtos, mesmo que imperfeitos, evitando a busca pela “solução definitiva”. O aprendizado é contínuo e incremental.
Finalizando o Ciclo
Cada experimento deve ter um ciclo de experimentação que, normalmente, leva até 3 meses. A partir do fim de cada ciclo, temos basicamente três opções:
- Encerrar o experimento por completo
- Pivotar, ajustando o desenho com base no aprendizado
- Expandir o experimento, aplicando a mudança em maior escala
Defina desde já qual será o critério para tomar essas decisões quando chegar a hora. Também reflita sobre lições e insights que devem ser extraídos ao final do ciclo experimental, independente do resultado.
Benefícios do Canvas de Experimento
Alguns benefícios que o Canvas de Experimento traz:
- Compreensão mútua: Ajuda a alinhar expectativas e definir um foco comum
- Testar hipóteses explicitamente: Não apenas executar, mas validar hipóteses definidas
- Reduzir riscos: Checklist ajuda a calibrar o experimento para um teste seguro
- Maximizar aprendizados: Força a reflexão sobre insights e próximos passos
- Estrutura e foco: Guia para os elementos essenciais de um bom experimento
- Simplicidade: Formatos visuais simplificam a complexidade da experimentação
Conclusão
O Canvas de Experimento fornece uma estrutura simples, porém poderosa para desenhar, executar e evoluir experimentos. Seguir os elementos do canvas aumenta muito as chances de obter sucesso com a experimentação organizacional.
Claro, o canvas é apenas um guia, não um caminho linear. Deve ser adaptado ao contexto e utilizado com flexibilidade. Porém, ter uma base sólida para guiar o processo experimental é fundamental.
Portanto, convidamos você a colocar o Canvas de Experimento em prática em seus projetos de design organizacional. Combinado com uma atitude experimental genuína, esse canvas pode te ajudar a desbloquear possibilidades que antes pareciam fora do alcance.
A experimentação é uma jornada contínua, não um projeto com fim definido. Mas ter as ferramentas certas para navegar nessa jornada faz toda diferença entre chegar a lugares comuns ou alcançar territórios verdadeiramente novos. O Canvas de Experimento pode ser um desses instrumentos valiosos.