3.7 Buscando o Adjacente Possível
O biólogo Stuart Kauffman cunhou o termo "adjacent possible" para descrever o horizonte de novas possibilidades que se abrem a cada passo ao longo do caminho evolutivo. Por exemplo, a evolução da visão tornou adjacente a possibilidade de asas aerodinâmicas em insetos. Asas, por sua vez, abriram novas "adjacências" como o voo propulsado.
O adjacente possível é como expandir um mapa: cada nova ideia ou invenção revela novos territórios "adjacentes" antes desconhecidos.
- A invenção da eletricidade revelou no "mapa" os territórios da eletrônica, eletrodomésticos, iluminação, computadores, etc.
- O smartphone abriu no "mapa" os territórios dos apps, streaming, redes sociais móveis, rastreamento, etc.
- A internet expôs os territórios do comércio digital, redes sociais, compartilhamento de dados, nuvem, etc.
- A inteligência artificial está revelando os territórios de carros autônomos, diagnósticos médicos, chatbots, etc.
Os adjacentes possíveis são os novos territórios que se tornam visíveis a partir de uma inovação prévia. Quanto mais se explora o mapa, mais ele se expande, em um ciclo contínuo de inovação.
Esse princípio pode ser usado com uma analogia ao observar organizações complexas. Cada nova capacidade ou solução cria adjacentes que antes eram inalcançáveis. Por exemplo, a adoção da autogestão torna adjacente a possibilidade de eliminar gerentes intermediários. Isso, por sua vez, abre espaço para estruturas mais responsivas.
Diferente da evolução biológica, as organizações têm a vantagem de poder adaptar intencionalmente sua trajetória através do espaço adjacente. Isso envolve perceber possibilidades emergentes e realizar pequenos experimentos para avaliar seu potencial transformador.
Limitações de Soluções Ótimas
Diante de uma tensão criativa , a tentação é muitas vezes buscar a “melhor solução” de forma analítica. Porém, essa postura apresenta sérias limitações em sistemas complexos e ambientes de rápida mudança.
Soluções ótimas baseiam-se em modelos simplificados da realidade e em previsões lineares. Logo, falham em capturar as dinâmicas não-lineares e potenciais não antecipados do sistema. Além disso, demoram demais para serem desenvolvidas, e quando implementadas, acabam defasadas ou rejeitadas.
Já as possibilidades adjacentes são soluções imperfeitas aqui e agora. Elas tangibilizam oportunidades que estavam latentes mas inacessíveis, expandindo os limites do possível.
Portanto, ao invés de buscar grandes transformações orientadas pelo passado ou por projeções ilusórias do futuro, o foco deve estar no próximo passo possível com base nas possibilidades e sinais emergentes do presente.
Abraçando Oportunidades Emergentes
Isso requer uma postura de experimentação. Em vez de tentar controlar ou prever, nós catalisamos mudanças que geram aprendizagem contínua.
Isso envolve assumir uma atitude de descoberta, criando condições para que novos comportamentos, ideias e configurações possam surgir como uma resposta do sistema.
À medida que pequenas sementes de inovação são plantadas, o terreno fértil permitirá que algumas floresçam, revelando possibilidades adjacentes antes invisíveis.
Maior Alcance via Pequenos Passos
À primeira vista, as inovações incrementais podem parecer triviais. Porém, pequenos ganhos possuem efeito desproporcional quando alavancam as forças corretas no sistema.
Intervenções aparentemente modestas podem abrir as comportas para mudanças mais amplas ao longo do tempo. O poder está em plantar sementes que florescerão no momento certo.
Entretanto, enxergar e aproveitar possibilidades adjacentes requer cultivar uma nova forma de ver, pensar e agir.
Habilidades analíticas perdem relevância. A intuição se torna chave, bem como a capacidade de perceber padrões sutis e interconexões.
Portanto, é preciso estimular uma perspetiva crítica e uma sensibilidade aos padrões de mudança ao longo do tempo. Essa plasticidade cognitiva e organizacional é essencial para identificar e aproveitar oportunidades à medida que o futuro se desdobra.